sábado, 28 de agosto de 2010

Choro da Menina



No claro jardim a menina chora
pela borboleta que se foi embora.
Ora, ora, ora,
Não chore tanto! Nossa senhora!


A menina chora no jardim
um choro sem fim.


Nem o céu azul é bonito, agora,
pois a borboleta já se foi embora.
Não chore tanto! Nossa senhora!


Que choro sem fim
a menina chora
no claro jardim.
Ora, ora, ora!


Onde está meu quintal amarelo e encarnado,
com meus meninos brincando de chicote-queimado,
com cigarras nos troncos e formigas no chão,
e muitas conchas brancas dentro da minha mão?


E Júlia e Maria e Amélia onde estão?
Onde está o meu anel e o banquinho quadrado
e o sabiá na mangueira e o gato no telhado?
-e a moringa no barro, e o cheiro do alvo pão?


E tua voz, Pedrina, sobre meu coração?
Em que altos balanços se balançarão? ...


©Cecília Meireles

sábado, 14 de agosto de 2010

O Último Andar

Ilustração: ©Johanna Wright

No último andar é mais bonito:
Do último andar se vê o mar.
É lá que eu quero morar.


O último andar é muito longe:
Custa-se muito a chegar.
Mas é lá que eu quero morar.


Todo o céu fica a noite inteira
Sobre o último andar.
É lá que eu quero morar


Quando faz lua, no terraço
Fica todo o luar.
É lá que eu quero morar


Os passarinhos lá se escondem,
Para ninguém os maltratar:
no último andar


De lá se avista o mundo inteiro
Tudo parece perto, no ar.
É lá que eu quero morar


No último andar


©Cecília Meireles

domingo, 1 de agosto de 2010

A rosa e o mar

Ilustração: ©Irisz Agocs

Eu gostaria ainda de falar
da rosa brava e do mar.
A rosa é tão delicada,
o mar tão impetuoso,
que não sei como os juntar
e convidar para um chá
na casa breve do poema.

O melhor é não falar:
sorrir-lhes só da janela.


©Eugénio de Andrade